A actriz se veste de Colombina e até de Bob Esponja em episódio carnavalesco da série As Cariocas. Nos bastidores das gravações, ela conta que tem uma personalidade com menos fantasias e nuances do que o público acredita
OS VERSOS DA MÚSICA "Máscara Negra", imortalizada na voz do cantor e compositor Zé Kéti, bem poderiam servir de pano de fundo para a personagem vivida por Deborah Secco no episódio "A Suicida da Lapa" da série As Cariocas, que estreia em outubro, na Globo. Afinal, a produção montou um cenário típico dos grandes bailes de Carnaval de outras décadas para contar a história de Alice, papel da atriz, e Roberto, interpretado por Cássio Gabus Mendes. Fantasiados de Colombina e Arlequim, os personagens tentam apagar as desilusões do cotidiano e contam suas histórias de vida.
O baile, que na ficção acontece no boêmio bairro da Lapa, no Rio, foi gravado numa segunda-feira no final de julho, no PoloRio Cine e Vídeo, em Jacarepaguá. Em cena, Deborah e Cássio revezavam fantasias: de Colombina e Arlequim iam para Bob Esponja e Capitão América. Tipos tão inusitados se tornaram alvo de brincadeiras no set dirigido por Daniel Filho. "O que será da carreira do Cassinho depois do Capitão América?", provocava Daniel. Deborah devolvia: "O Capitão América foi a paixão da minha infância". Outro momento de descontração e muitas risadas aconteceu quando Deborah entrou no estúdio pela primeira vez vestida de Bob Esponja. "Oi amiguinhos! Agora é minha vez de pagar mico", brincou.
Quem via a animação da atriz no set nem imaginava a maratona de trabalho que ela atravessava naquelas semanas, quando se apresentou em várias capitais do País com a peça Mais Uma Vez Amor. Mas bastou uma pausa para o almoço e Deborah sucumbir ao cansaço. Enquanto o restante da equipe fazia a refeição, ela aproveitava para dormir por alguns minutos. À tarde, mais descansada, ela ouviu o conselho de Daniel Filho: "Deborah, não pinta tanto os cabelos, não. Deixa mais natural, as pessoas têm que gostar de você como você é". A atriz lembrou o diretor que foi ele mesmo quem iniciou o processo camaleônico de sua carreira. "Foi você quem pediu para pintar meu cabelo pela primeira vez, em Suave Veneno".
O clima de intimidade entre elenco e direção seguiu até o final da jornada, que terminou com um "Parabéns pra Você" para uma integrante da equipe. Enquanto Cássio se despedia rapidamente porque ainda voltaria para São Paulo, Daniel e Deborah se abraçavam. Era o último de dois dias intensos de gravação para o episódio escrito por Clarice Falcão e Gregório Duvivier. Antes, porém, Deborah recebeu Gente de roupão branco e peruca loura, na sala de maquiagem do estúdio, para um bate-papo:
A Alice é uma mulher camaleônica. Você também é assim?
Pelo trabalho, estou sempre disposta a mudar e talvez isso me transforme numa mulher camaleônica. Mas de verdade, acho que não. Tenho um pouco de preguiça de mudar qualquer coisa.
Sua personagem se depara com uma situação limite e pensa até em suicídio. Você já passou por situações extremas?
Graças a Deus, não. Mas minha mãe perdeu uma filha de 5 anos, foi um momento bem difícil. Para mim, a morte é a situação que mais me incomoda. Essa sensação de que vou perder pessoas que amo, que elas vão embora. Cresci com isso, meus pais tiveram que lidar com a perda muito cedo. Não é uma ordem natural da vida. Geralmente os filhos perdem os pais. Acho que vai ser assustador perdê-los. Sempre escutei minha mãe dizer que vai morrer antes da gente porque não aguenta perder outra filha. Talvez num momento como esse, eu pensaria como minha personagem.
Você e sua irmã caçula foram superprotegidas em função da morte de sua irmã mais velha?
Como eu vim logo depois da minha irmã e por ser parecida com ela, muitas pessoas me confundiam. Eu tinha essa coisa de não desagradar, era muito preocupada em não fazer meus pais sofrerem porque achava que eles tinham passado por todo sofrimento que uma pessoa podia passar. Mas eles sempre deixaram eu viver tudo o que queria. Comecei a trabalhar muito nova. Eles foram nota mil. Meu pai, por mais que não acreditasse que fosse dar certo, deixou.
A Alice é uma mulher inconstante. Ela se parece com você?
(Risos) Acho que não. Sou muito mais tranquila do que as pessoas imaginam. Hoje em dia, acho bom terem essa sensação, porque é sinal que minhas personagens estão sendo bem feitas. Porque elas, sim, são oito ou oitenta. Cada vez mais tento deixar a Deborah menos em foco. Li uma frase da Meryl Streep que traduz muito bem isso: o ator não tem que ter personalidade para que as pessoas acreditem na personalidade dos personagens que estão interpretando.
"Cada vez mais tento deixar a Deborah menos em foco.
Tento preservar um pouquinho as minhas verdades
para que as pessoas acreditem nas verdades das personagens" Deborah Secco
É uma forma de manter sua privacidade?
É uma omissão do que realmente sou, como vivo, sinto e me expresso... Tento preservar um pouquinho essas verdades para que as pessoas acreditem nas verdades das personagens. O cantor bota sua personalidade à frente. O ator não. Ele vive das personalidades que cria e interpreta.
Tanto na série, como na peça Mais Uma Vez Amor e no filme Bruna Surfistinha você usa perucas. Existe nesse movimento algum desejo de disfarçar a Deborah?
Não. É que esse tempo de salão é muito cansativo, cola cabelo, perde dois dias, depois pinta. Já sei que na novela do Gilberto Braga vou ficar loira, então terei que ir ao salão de 15 em 15 dias para fazer mechas. Isso cansa muito.
Fonte: Isto é Gente