São 11h da manhã. Deborah Secco atravessa a porta da suíte presidencial do Sheraton São Paulo WTC Hotel. Está de calça jeans larguinha, boyfriend, e salto alto. Meia hora antes, quando deixou o apart onde mora há três meses na cidade para rodar o filme Bruna Surfistinha - O Doce Veneno do Escorpião, ela nem se deu conta que a camiseta branca um pouco transparente sobre o sutiã estava do avesso. Risos. Já descalça, ela coloca os pés no chão. É dia de folga e Deborah está com água na boca para comer bacalhau no almoço, cardápio que virou mania desde o início dessa temporada paulistana. Enquanto espera o delivery, ela come uns dois bombons. Ainda parecendo uma menina, mas com toques de sofisticação, Deborah chega aos 30 anos no dia 26 de novembro com a vitalidade dos 15 - e lembra seus momentos aos 20. Agora, pensa em montar sua família com o jogador Roger Flores, 31, que vive no Catar, mas está a um pulinho do Skype de Deborah. O mulherão das fotos na verdade não domina a figura do marido: ela é passiva, obedece mais e tudo bem. Já as lentes da câmera viram sua escrava e só têm descanso quando ela quebra o clima com caretas debochadas. Confira...
''Eu acho que, num relacionamento a dois, a mulher sedutora é aquela que domina. Eu não sou assim. Sou passiva, obedeço mais''
Roger me surpreendeu porque eu é que falava: ''Vamos casar! E ele: Casar com quem? Já arranjou marido? Eu não vou casar''
''Eu sempre achei que amava mais as pessoas do que elas me amavam. Descobri que o amor existe quando é igual dos dois lados''
Como você consegue ficar tão sedutora nas fotos?
(Risos) Acho que é uma defesa de quem é atriz criar personagens na hora de fotografar. O normal é pegar aquela que está mais próximo de você no momento. Da mesma forma que consigo fazer uma foto sexy, também sei ser mais neutra. Queria muito saber usar isso na vida real. Eu não sou isso, não acredito nessa sedução.
Nem na vida a dois?
Na vida a dois principalmente. Não é natural para mim.
O que é natural?
Eu sou quieta e caseira. Não sou sedutora o tempo todo. Não sou sexy. Sou mais romântica. Eu acho que, num relacionamento a dois, a mulher sedutora é aquela que domina. Eu não sou assim. Sou passiva, obedeço mais. Se me pergunta onde vamos jantar, eu nunca escolho. Dificilmente imponho a minha vontade. O Roger já se acostumou com isso. Já sabe que qualquer decisão vai ter de partir dele.
Mas essa mulher que surge nas fotos em nada se parece com o estilo ''mulherzinha''...
Essa mulher que as pessoas admiram nas fotos é uma mentira. Elas veem uma Deborah sempre penteada, maquiada, produzida. Eles não me veem acordando. A Deborah que admiram sou eu depois de duas horas me arrumando, que isso fique claro (risos)!
Quanta propaganda contra!
Hoje as pessoas se cobram pela perfeição, têm de ser magras e bonitas. Ninguém tem de ser nada! Tem de ser o que faz você feliz. As pessoas vivem numa hipocrisia, é uma perseguição... Ninguém pode ser feio. Aí, a gente aparece sempre linda na foto. Mas não é assim! Temos celulite, bumbum mole, temos milhões de defeitos, choramos sozinhas no quarto. Faço questão de libertar as pessoas e dizer que não existem mulheres perfeitas. Vá ao salão e você ficará linda. Não acordamos assim, ninguém fica linda inchada, de camisola, tomando leite (risos).
''Tudo o que eu fiz, guiada pela impulsividade, foi viver como se o mundo fosse acabar amanhã''
Você diz que gosta de cuidar da casa, de arrumar as coisas, de botar a mesa. Morando em São Paulo por causa do filme e com Roger no Catar (Emirados Árabes), não está sentindo falta do início da vida de casada?
Mas a gente já experimentou essa vida a dois. Mal ou bem, ficamos um tempo juntos no Rio, depois em Porto Alegre, antes de nos casarmos. E, quando estou lá no Catar, também tem esses momentos. Lá, principalmente, porque somos só nós dois.
Não vê a hora de ele voltar para o Brasil?
A maior prova que a gente se dá é eu entender o quanto isso é importante para ele profissionalmente e ele entender o quanto é importante para mim o que faço aqui. A gente se respeita, se admira. Amor não é querer a pessoa para você. É querer quem você ama feliz.
E como matam a saudade?
De todas as maneiras! Mensagens de texto, telefone e Skype (telefone pela internet) nos possibilitam estar próximo, mesmo tão distante. Lá são cinco horas a mais. Nos adaptamos. A maioria das vezes em que chego ao hotel, ele está dormindo. A hora que estou acordando é uma hora boa para a gente se falar. Quantas vezes ligo? Depende... Agora, trabalhando, eu não consigo ligar muito, não levo o celular para o set. Quando eu não estou, se deixar eu ligo muito e fico o dia inteiro no Skype.
É um casamento livre de crises porque é uma convivência à distância?
Nosso casamento é sem crise porque é sem crise mesmo. Às vezes a distância até dificulta. Quando as pessoas se gostam elas querem estar perto.
Por que não esperaram o momento em que os dois viveriam no Brasil para se casar?
Na verdade, tínhamos uma data anterior de casamento, dezembro de 2008. Mas, no meio disso, ele recebeu o convite para jogar no Catar e tudo dependeria da classificação do time para saber se estaríamos no Brasil. Fomos adiando, adiando... O pedido veio antes de ele saber que ia morar lá. E me surpreendeu porque eu é que falava: ''Vamos casar!''E ele sempre dizia: ''Casar com quem? Já arranjou o marido? Eu não vou casar''. Aconteceu na hora em que achamos que a vida seria mais legal se estivéssemos juntos.
Uma vez você falou que casamento em casas separadas não era casamento, era namoro... Continuo pensando da mesma forma. Tenho duas casas, aqui e no Catar. Quando estou lá, eu administro as coisas. Não vou dizer que boto ordem em tudo porque há coisas que ele faz melhor que eu, como cozinhar. Mas não é a casa dele. É a nossa casa.
Você também já declarou que estava muito perto de saber o que é o amor mesmo. Hoje, já sabe?
Eu acho que não falei só em relação a homem e mulher, mas, principalmente, em relação a amar e confiar. Consegui relações na minha vida que me fizeram enxergar que o amor é possível, que essa troca é verdadeira. Eu sempre achei que amava mais as pessoas do que elas me amavam. Descobri que o amor existe quando ele é igual dos dois lados.
E por que você queria tanto completar 30 anos?
Eu aprendi a gostar de mim, a ficar sozinha. É a idade em que seus atrativos são o que você tem por dentro e não o que tem por fora. Ao mesmo tempo, ainda tem a beleza da juventude. Hoje, começo a me enxergar. Sei que ainda tenho de trabalhar a minha impulsividade. No meu trabalho, é impossível não ser assim, porque esse despudor é quase fundamental. Mas também aprendi a canalizar para que isso seja profissional. Às vezes, eu confundia e trazia para a vida. Antigamente, se eu fosse comprar uma casa, não podia esperar. Se eu gostasse de alguma coisa, eu ia querer ter 30 daquilo. Tudo o que eu fiz, guiada pela impulsividade, foi viver como se o mundo fosse acabar amanhã.
Agora, quais são suas metas?
Agora se inicia a década de ter filhos, das realizações. É o momento de montar a minha família, me estabilizar profissionalmente, construir uma imagem mais sólida. Maternidade? Isso vai acontecer. Mas prefiro não planejar. Essa vontade não está latente agora, mas, daqui a um ano ou dois, pode mudar. Filho é uma coisa delicada. Reservei ser mãe nessa época por ouvir a minha mãe falando como foi ter filho muito cedo, que não aproveitou tanto, que se dividiu entre ter de ganhar dinheiro para sustentar a família e o pouco tempo que sobrava para os filhos. Sempre sonhei em viajar muito, conhecer a Europa de carro, para depois ter filho.
A Europa de carro você já conheceu na lua de mel?
Não toda, uma parte (risos).
Fisicamente falando, você se vê como uma mulher de 30?
Ainda me sinto com a vitalidade de 15! Não vejo essa diferença física. Ainda faço uma imagem minha de menina. Às vezes, eu me olho no espelho e estranho: ‘Nossa, já estou velha!’. Mas também tenho uma postura que não é de mulherão, que chega e chama atenção, poderosa, elegante. Gosto mais de mim agora em todos os aspectos, físico e emocional. Eu só melhorei. A idade me favoreceu. Eu vejo fotos minhas de quando era novinha e penso: ‘Que monstro!’ Eu tinha muita espinha, era magra, tinha pernas finas. Na minha época, bonito era ser boazuda, o que eu não queria ser. Eu era a feia do colégio. Eu não era a popular, que se achava incrível. Eu era aquela chata, que ficava sozinha.
Há três meses, vivendo em São Paulo para rodar o filme sobre a vida de Bruna Surfistinha, como tem sido sua rotina? E qual a cena mais complicada até agora?
Não está tão normal assim. Comecei a filmar à noite, das 18h às 6h. Chegava ao hotel às 7h, dormia às 8h, acordava às 17h e estava pronta novamente. Agora, filmo de dia, da casa para o trabalho, do trabalho para casa. Quando eu me envolvo com a personagem, a minha vida particular fica muito guardada. Achei que fosse sentir falta do pilates, mas não. Só sinto falta de dormir uma horinha a mais. Todo mundo fala das cenas de sexo... Mas o que mais me agride são as cenas de droga. Eu nunca usei. Outro dia tive de cheirar pó (cenográfico) sem usar uma nota de dinheiro. Eu disse no set: ''Não sei o que fazer, gente!'' É muito mais fácil para mim conversar com uma garota de programa e ouvi-la contando que naquele dia saiu com sete caras porque precisava do dinheiro e eu entender a dor que ela sentiu, mesmo nunca tendo passado por esse trauma. Para mim sexo sempre foi ligado a sentimento, respeito e carinho.
Mas eu posso imaginar o que seria uma hora com um cara nojento em cima de mim, me batendo, realizando fantasias que não são agradáveis e você tendo de se submeter a isso, ou a entrar no carro de um cara sem saber se vai voltar. São mulheres muito corajosas. Estamos mexendo em um assunto que está dentro de casa, com pessoas casadas, consideradas sérias. Por que colocar uma arma na mão de um menino, que mata um bando de gente em Cidade de Deus é legal e mostrar sexo obrigado, pago e submisso não pode? Ainda há muito preconceito em torno desse assunto...
Eu aos 20...
>> Eu comia brigadeiro
>> Eu me apaixonava facilmente
>> Eu queria da vida ser feliz
>> Eu ouvia MPB
>> Eu chorava vendo filme de amor
>> Eu sonhava em ser feliz, em ter uma carreira bacana e uma família
>> Eu comprava muito mais bobagens que eu não usava
>> Eu namorava
>> Eu viajava com menos frequência e queria viajar mais, conhecer lugares
>> Eu dormia muito
>> Eu via o sexo como uma coisa estranha. E não sabia por quê...
>> Eu antes morava em uma casa...
>> Eu era carente de companhia
>> Bom, eu vestia tudo errado...
>> Eu não pensava em como me viam
>> Eu queria provar que sou quem realmente sou
>> Eu discutia na minha terapia quem eu era
>> Eu achava o meu corpo péssimo
>> Eu tinha saudade da minha infância, dos almoços de fim de semana com a família reunida
>> Eu achava que uma relação precisava ser intensa
...e eu aos 30!
>> Eu ainda como brigadeiro
>> Eu me apaixonei só por quem realmente vale a pena
>> Eu quero continuar feliz
>> Eu continuo ouvindo MPB
>> Eu agora choro é de saudade
>> Bom, digamos que eu ainda sonho com as mesmas coisas (risos)
>> Eu agora penso três vezes antes de comprar
>> Eu sou casada
>> Eu viajo para os mesmos lugares agora... Só para o Catar (risos)!
>> Ainda durmo muito (risos)
>> Agora eu vejo o sexo completamente ligado a meu marido
>> ...e agora moro num apê com quarto e sala
>> Eu sou carente de sentimentos verdadeiros
>> ...agora me preocupo muito mais com isso!
>> Eu acho que cada um me vê de uma maneira
>> Eu não quero provar nada para ninguém
>> Bom, continuo discutindo a mesma coisa (risos)!
>> Eu acho o meu corpo médio (risos)
>> Aos 30, também tenho essa saudade, mas com a certeza de que quero construir isso para mim.
>> Eu acho que a relação deve ser serena, em paz
Assistente de fotografia: Isabel Acosta. Cabelo e maquiagem: Marcos Proença. Assistente: Tatiana Santos. Produção: Marcio Vicentini. Cashmere: Daslu. colar: Raphael Falci