A actriz também encarou recentemente o polêmico papel de Bruna Surfistinha
Ela é uma das mulheres mais sexy do país, e não hesita em explorar a sua sensualidade nos seus papéis como atriz. Mas, que ninguém se engane. Longe de querer manter um status de símbolo sexual, a maior vaidade da carioca Deborah Secco, 30 anos, está em desenvolver bons personagens. O resto é consequência, diz ela, que não se cansa de buscar novos desafios.
Deborah Secco na comédia romântica Mais Uma Vez Amor, que fala de vários momentos da vida do país
Após brilhar na novela A Favorita, de 2008, e na minissérie Decamerão - A Comédia do Sexo, em 2009, Deborah encarnou recentemente o polêmico papel de Bruna Surfistinha, no filme homônimo, dirigido por Marcus Baldini.A produção mostra a saga de Raquel Pacheco, a garota de programa mais famosa do Brasil, e deve estrear em fevereiro do ano que vem.
Enquanto não começam as gravações da próxima novela das 21h da Globo - na qual será uma das estrelas -, a atriz se dedica à peça Mais Uma Vez Amor. Dirigida por Ernesto Piccolo, com texto de Rosane Svartman, a montagem pode ser vista pelos soteropolitanos no Teatro Sesc Casa do Comércio, na Pituba, de sexta a domingo, com ingressos a R$ 70/R$ 35.
No palco, Deborah contracena com Erom Cordeiro, formando um estranho casal. Seus personagens Lia e Rodrigo sempre se amaram, mas nunca viveram juntos, atravessando décadas em uma relação repleta de encontros e desencontros. Na entrevista seguir, Deborah fala sobre a montagem, da qual também é produtora, e comenta sobre os caminhos de sua carreira.
Uma versão de Mais Uma Vez Amor foi encenada em 2004, com Marcos Palmeira e Luana Piovani, e a peça virou filme em 2005, com Dan Stulbach e Juliana Paes. Qual é o diferencial da montagem de vocês?
Bem, o teatro tem essa mágica de que toda montagem é uma peça nova. Assistir a um Hamlet é sempre uma experiência diferente e grandes textos merecem ser remontados sempre. É o caso de Mais Uma Vez Amor, que tem esse trunfo de falar de uma história dentro da história. Começamos mostrando os personagens nos anos 70 e vamos até o ano 2000, falando de episódios importantes do país que afetaram a vida da Lia e do Rodrigo. Falamos, por exemplo, das Diretas Já, ou de planos econômicos do Sarney e do Collor. Então, é até engraçado, porque alguns jovens já vieram me perguntar:‘quem é essa Zélia Cardoso que vocês falam?’ Nessa hora até fiquei chocada. Como assim? Vocês não sabem que houve um confisco no país? (risos)...A peça tem esse lado bacana, que vai além da diversão, estimulando as pessoas a refletir e crescer culturalmente.
Sua peça mal estreou e já chamou a atenção da mídia pelo fato de você aparecer em cenas quentes com o Erom. Te incomoda se parte do público estiver mais ligada na sua sensualidade do que no seu talento?
Isso não me incomoda e também acho que uma coisa puxa a outra. Tomara que as pessoas saiam de casa para ver a Deborah de calcinha e voltem achando que o teatro é algo sensacional.Essa conquista do público é muito importante. Mas é bom lembrar que a peça não tem cenas apelativas ou desnecessárias. Todas estão ali para contar a história do casal. Além disso, sou uma pessoa despudorada e faço o que é preciso para atender as necessidades do meu papel.
Em Decamerão - A Comédia do Sexo, a fogosa Monna e o padre Masetto (Lázaro Ramos)
Como é a sua relação com Salvador, onde você já gravou uma participação na série Ó Pai, Ó?
O que você mais gosta da cidade e o que pretende fazer quando estiver por aqui? A primeira coisa é comer um acarajé! Adoro a comida daí, principalmente os frutos do mar: siri, caranguejo... Gosto muito de ir à praia também. Não tem como não dar um mergulho nesse mar! E, além disso, tenho grandes amigos aí. Adoro a Ivete, o Wagner... Enfim, a Bahia tem uma cena artística muito interessante, não só com cantores, mas com grandes atores. A arte baiana é muito forte e cheia de nuances, como a própria Salvador. Sempre fico inebriada com essa energia da cidade, as pessoas falando alto, e todo esse colorido!
Você é considerada uma das mulheres mais sexy do Brasil. A imagem de símbolo sexual é algo que você sempre buscou?
Eu nem achava que isso seria possível, afinal venho de uma família em que sou a filha feia. Minha irmã tem um metro e setenta e oito, olhos verdes, e faz esse tipo gostosona. Eu sou pequenininha, magrinha. Só que muitas personagens que eu fiz eram sexy. Então, talvez eu, como atriz, tenha conseguido convencer as pessoas de que eu era assim. (risos)... Mas garanto que não é real! Eu me sinto mais menina do que mulher e nunca me preocupei em ser um símbolo sexual. Minha preocupação é fazer personagens diversificados. Assim, de Darlene, em Celebridade, eu fiz a Sol, em América, e depois fiz uma freira em Pé na Jaca. E, agora, a Bruna Surfistinha, que no início do filme é toda feia. Também não tenho apego pela beleza. Para esse papel, engordei 12 quilos! Minha vaidade é fazer as pessoas acreditarem na minha personagem.
E como foi o seu contato com a Raquel Pacheco, a Bruna Surfistinha? Ela te ajudou com a personagem? E qual foi a maior dificuldade desse papel?
Eu não quis ter contato com a Raquel antes, mas só depois que a personagem estava pronta. Eu quis criar a minha Bruna, ate porque o filme é bem ficcional. Então, quem me ajudou mais foram outras meninas que conhecemos e entrevistamos no processo de pesquisa. Quanto à dificuldade do papel, para mim foi a questão das drogas. Eu nunca bebi, nunca fumei, nem usei nada, e tive que aprender a fumar, por exemplo. Também precisei entender, com a ajuda de médicos, como são os efeitos da cocaína, para reproduzir isso na minha atuação.
Você acredita que o filme pode ajudar a tirar preconceitos contra as prostitutas? E que tipo de reflexões ele traz?
Acho que as pessoas vão perceber que essa tal vida fácil não é nada fácil. É muito triste. Essas meninas não fazem mal a ninguém, a não ser a elas próprias.Como filme, a gente também fica se perguntando: por que elas fazem essa escolha? Para a Bruna foi uma escolha. Mas, conhecendo outras garotas, tive certeza de que muitas não tiveram outra opção. No fim, acho que esse filme é um pouco como Cidade de Deus, que mostrou a vida de uma favela, ou Carandiru, que trouxe a realidade de um presídio. O público que vive fora desses universos têm curiosidade em conhecê-los, e isso só é possível quando surgem pessoas dispostas a expor suas vidas com tanta generosidade como fez a Raquel.
Fonte: Correio 24 horas