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deborahsecco

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18
Out14

Revista Trip - Deborah Secco

Deborah Secco Portugal

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 Aos 34 anos, a atriz segue estampando de maneira fatal nosso imaginário de capa de revista

 

Desde os 8 anos, Deborah Secco acontece sob os holofotes. Como numa história que corresse paralela a sua própria história, suas personagens sempre estiverem um passo à frente. O primeiro beijo na vida real veio depois do beijo na ficção. O sexo existiu antes na novela. Aos 34 anos, a atriz segue estampando de maneira fatal nosso imaginário de capa de revista. Mas é possível falar com ela. Enquanto seu personagem posava para as fotos desta edição, Deborah Secco conversou com Trip. Assertiva, forte mas frágil, conhecedora de seus limites e de sua trajetória, a atriz cita aquela que chamou de "frase da sua vida": "Uma pessoa não é aquilo que quer, mas o que pode ser"

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Ela se diz transformada por dois de seus papéis no cinema: uma garota de programa egressa da classe média, em Bruna Surfistinha, mais de 2 milhões de espectadores em 2011; e a soropositiva terminal Judite, de Boa sorte, estreia da diretora Carolina Jabor na ficção, a ser conferido nos cinemas a partir de novembro. Para viver este drama baseado em conto do cineasta Jorge Furtado, Deborah Secco perdeu 11 quilos.

Com todos eles de volta (e mais três adicionais), a atriz carioca teve pela frente novo papel principal, o de uma decadente apresentadora de programa infantil, em A estrada do diabo (ainda sem estreia definida), de André Moraes. “Um filme diferente de tudo. Um grupo de atores está fazendo um longa de baixo orçamento e meio que pira no método Fátima Toledo, não sabe mais o que é a realidade”, diverte-se.

A alusão à polêmica preparadora de elenco (de Pixote, Cidade de Deus e Tropa de elite), conhecida pela linha dura e busca por uma atuação realista custe o que custar, entra de modo bem-humorado na conversa testemunhada por uma mesa generosa, repleta de guloseimas, fraco confesso da anfitriã. No luxuoso apartamento de Deborah, em frente à praia da Barra da Tijuca, o cenário oceânico do Rio se comporta de maneira pouco usual durante as 2 horas de papo: relâmpagos, fortes ondas, chuva de granizo.

Habituada aos holofotes desde os 8 anos, a ex-estrela infantil faz psicoterapia há duas décadas. Desde 2004, depois de sofrer de um problema na tireoide, começou uma virada atlética à base de variada rotina de exercícios: após a entrevista, empolgada, faz questão de demonstrar energicamente seus movimentos de levantamento olímpico, também conhecido como halterofilismo. Solteira após dois casamentos (com o diretor de TV Rogério Gomes, entre 1997 e 2001, e o futebolista Roger Flores, de 2009 a 2013) e um relacionamento longo com Falcão, vocalista d’O Rappa, Deborah chega aos 34 anos sem fazer o tipo je ne regrette rien (não me arrependo de nada).

Ela não se orgulha de ter posado nua para a revista Playboy duas vezes, em 1999 e em 2002, exibindo o nu frontal que mesmo no ousado Bruna Surfistinha, por exemplo, não foi necessário. “Eu poderia ter feito teatro com Antunes Filho, virado uma atriz cool. Me questionei bastante sobre isso, mas precisava da estabilidade financeira, queria proporcionar coisas para a minha família”, conta a menina criada em Jacarepaguá (zona oeste do Rio), em uma família de classe média – “baixa”, completa.

Na preparação para filmar Bruna Surfistinha, a menina que era “fragilzinha” e “fresquinha” (termos dela mesma) viveu por um mês entre garotas de programa. Moças estupradas pelos pais ou padrastos, que se drogavam para aliviar a dor, que lutavam para mandar dinheiro para filhos que mal viam. “Uma puta vida infeliz. Mas a capacidade delas de sobreviver me fez valorizar tudo que eu consegui. Uma delas me disse o que virou a frase da minha vida: ‘Deborah, ninguém é o que consegue ser. A gente é o que pode ser’. Apesar de todos os erros que cometi, dos tropeços que dei, estou superbem, tenho saúde, minha família está ótima. Vindo do lugar de onde venho, estou aqui, agora, neste apartamento”, pesa, expandindo o olhar para o belo céu encrespado.

Boa sorte, filme do qual (a exemplo de Bruna Surfistinha) Deborah é coprodutora associada, também colocou a estrela, que há dez anos tem contratos entre o primeiro time da Globo (e 20 anos de casa), no meio de mulheres com quase nada no horizonte. Visitou várias soropositivas terminais, tinha a ideia de fazer uma mulher “forte, guerreira”. Mas, ao conversar com o infectologista David Uip (atual secretário de Saúde de São Paulo), o primeiro a diagnosticar um caso de Aids no Brasil, descobriu outra chave para sua personagem. “Ele me disse que em todos os pacientes que acompanhou e viu morrer havia uma força construída na serenidade de aceitar a situação”, fala. 

Deborah tem um projeto em parceria com o diretor André Moraes já aprovado para a Gshow, braço de internet da TV Globo. “É para debater temas polêmicos, dizer não ao preconceito. Só poderia funcionar na web, porque na televisão sofreria censura”, adianta. Em breve, vai filmar, com Daniel Filho, em dois dias, Obra-prima, filme que “pretende quebrar paradigmas de distribuição no Brasil” (talvez seja exibido apenas on-line). Também tem se arriscado a escrever roteiros, desenvolvendo ideias com João Falcão e Zé Henrique Fonseca. “A minha expectativa agora é arriscar, fazer o que não sei se vai dar certo. Como me disse a Fernandona [Fernanda Montenegro, que vive a avó de sua personagem em Boa sorte], antes de uma cena: ‘Minha filha, a gente nunca vai saber se está fazendo direito’. Aquilo me deu uma calma pra vida.” Deborah diz que sua religião são “seus atos”, mas, por via das dúvidas, ligou para a mãe depois de filmar com a veterana. “Vamos numa igreja agradecer.”

 

 "Aprendemos com a minha mãe a não depender de homem: não se venda por nada, seja dona da sua vida, você é quem manda, você pode, você faz"

 

Em algum momento você pensou em ser outra coisa que não atriz? Não tenho lembrança da minha vida sem ser atriz. Nasci sabendo que seria atriz. Escrevi uma peça aos 5 anos, O arco-íris sem cor. Não foi só o texto, eu tinha todos os figurinos desenhados. Minha mãe conta que eu brincava de chorar, de rir, brincava que tinha perdido a memória, chegava no colégio sempre com uma personalidade diferente. Numa dessas brincadeiras, tipo  adedanha, vinha a pergunta: “Atriz com a letra D”. Eu respondia: “Deborah Secco”. Daí diziam: “Não valeeeee! Você ainda não é atriz”. E eu reagia: “Sou atriz, sim!”. Tracei minhas metas ainda menina: com 25 anos vou ser protagonista de novela da Globo, com 50 eu ganho o Oscar. Aos 24, um mês antes de fazer 25, o meu nome veio antes do de todos em América, novela das 8. Agora, o Oscar... [risos]. Sempre achei que tudo ia dar muito certo. Eu tinha um acordo com meu pai que, se eu tirasse menos de oito em alguma matéria da escola, pararia com o que ele chamava de “brincadeira”. Para mim, não era brincadeira. Era o meu trabalho, a minha vida. Desde os 8 anos passei a ganhar dinheiro com a profissão. Quando fazia o seriado Confissões de adolescente [na TV Cultura, em 1994, aos 14 anos], fiquei três meses sem ir às aulas, e combinei na escola que poderiam exigir 7,5 de média, mas que não me reprovariam por falta. Eu já tinha como meta os oito para o meu pai mesmo...

Seus pais se separaram quando você tinha 12 anos, você foi criada pela sua mãe. O ambiente na sua casa era feminista? Meu pai se casou de novo e foi se distanciando de nós. Meu irmão ficou dois anos com ele, só depois é que veio morar conosco. Então, no começo, éramos minha irmã, minha madrinha, minha mãe e eu. Sempre senti falta de um homem protetor, uma figura paterna. Mas minha mãe [Sílvia] nos criou – eu e minha irmã, Bárbara, – para sermos a mulher que ela não foi. E criou meu irmão para ser o marido que ela não teve. Minha irmã hoje é advogada bem-sucedida, com escritório que atende grandes empresas. Aprendemos com a minha mãe a não depender de homem: não se venda por nada, seja dona da sua vida, você é quem manda, você pode, você faz. Para o meu irmão, a lição era: não pode ficar o dia inteiro fora trabalhando, tem que ver sua mulher, seus filhos. E ele de fato prefere ganhar menos e ter tempo para levar o filho para o judô, é aquele marido que chega cedo e espera a mulher com o jantar pronto.

 

"No primeiro nu que precisei fazer, fiquei chorando o tempo todo. Tremia, não conseguia. O Daniel Filho, que me dirigiu no Confissões de adolescentes, e foi como um pai para mim, me disse: 'Vamos para a análise. Botar pra fora suas angústias.'"

 

Ela sempre foi dona de casa? Minha mãe não tem profissão, sempre foi mãe. Acho que é a profissão mais difícil que existe. Com três filhos, então, ela vivia em função da gente. Meu irmão era nadador, treinava 8 horas por dia. Acordava às 4 da manhã pra ir de Jacarepaguá (zona oeste do Rio) para o Fundão (Ilha do Governador, zona norte). Ela ia e voltava para levar a gente para o colégio, depois buscava. Ela brincava dizendo que era nossa chofer. Mas fez toda a diferença na nossa vida. Ela ficava na janela do balé gritando “é a melhor”, “linda” – mesmo eu não sendo. Levava meu irmão em todas as competições, ficava na beira da piscina com um chocolatinho na mão gritando “vai!” Tudo que ela fez por mim, fez por eles. Minha irmã também era do esporte: natação, tênis, vôlei.

Você teve uma outra irmã, mais velha, que morreu na infância. Eu tinha 1 ano e meio, ela tinha 5. Erro médico, ela teve alergia a um antibiótico, o médico não quis fazer logo a traqueostomia. E eu cresci com essa coisa de “a Deborah é doente, é fraquinha”. Tinha alergia a muita coisa. Entrava no mar, alergia a iodo; comia camarão, corre para o hospital. Hoje, tenho o maior orgulho de ser, dos meus irmãos, a atleta, a única que faz exercícios com um compromisso maior. Não só pela estética, mas por vencer os desafios que eu não conseguia. Fazer barra de um jeito que meu irmão não faz! Quando ganhei um pouco mais de dinheiro com o Confissões de adolescente fomos todos para a Disney. Na época, não andei em nenhuma montanha-russa, morria de medo, era toda fresquinha. Agora, há pouco tempo, voltei com meu irmão e minha sobrinha. Fui em todos os brinquedos, naquele Lex Luthor Drop of Doom, por exemplo, que é uma queda imensa [de 120 metros, a mais alta do mundo em parques de diversões]. Durante toda a infância fui a pobrezinha [risos]. E a mais feia. Meu irmão tem 1,93 metro, era muito bonito. Minha irmã tem 1,75 metro, e eu com meus 1,64 metro. Minha irmã ganhou corpo rápido, tem olhos verdes, cabelo loiro (depois escureceu). Eu sempre tive muita espinha, vergonha absoluta do meu corpo magrinho. Só fui aprender a andar de bicicleta há três anos. O meu instrutor falou: “É inadmissível. Você tem equilíbrio, fica em pé na bola de pilates, vai aprender!”.

Muitos talentos precoces sofrem na vida adulta em função da infância roubada pela profissão. Qual foi o impacto disso na sua trajetória? Eu não me queixo. Em Jacarepaguá, tinha pique, queimada, gato mia. Brincadeiras mais físicas que as das crianças de hoje. Eu tinha uma única boneca Barbie. Quando fui para os Estados Unidos pela primeira vez, com o dinheiro que ganhei, comprei 20 Barbies. Graças a Deus tive uma sobrinha para herdar todas. E pude brincar com ela tudo o que não brinquei na época. Meu pai era matemático, dava aulas em colégio para os melhores alunos, que estudavam muito para passar no IME [Instituto Militar de Engenharia] e no Ita [Instituto Tecnológico de Aeronáutica]. Ele me dava problemas de vestibular e eu, com 10 anos, resolvia pela lógica. Ele dizia que eu seria uma grande matemática. Ficava louco com essa coisa de eu querer ser atriz. Mas eu dizia: vou ser atriz de qualquer jeito. Se der tudo errado, vou ser atriz pobre, vou passar o chapeuzinho na praça. Eu fiz vestibular só para dar satisfação para eles, entrei em filosofia, na PUC-RJ. Passei, tranquei e falei: “Pai, meu compromisso com você foi até aqui. Tá bom assim”.

 

"Meu primeiro beijo veio antes na ficcção. As personagens viviam coisas antes de mim. Isso me machucava. O início dessa coisa da Deborah sexy foi muuuito doloroso"

 

O que você lia quando criança? Eu li O amor nos tempos do cólera com 9 anos. Pensei: “É isso que eu quero! Um amor que não dê certo, porque aí você vive a vida toda com aquilo, a expectativa. Imagina que chato arrumar um amor que dê certo logo aos 20 anos? Perde a graça”. Era uma coisa completamente louca e adiantada para a idade. Eu sempre falo que, em todas as minhas relações, tentei acreditar no príncipe encantado. Acho que assim fui levando adiante muitos relacionamentos. Como atriz, eu nem deveria falar isso, mas... Como espectadora, o que gosto mesmo é de Uma linda mulherGhost, Um dia, filme com a Anne Hathaway. Eu choro. Sempre gostei de histórias de amor, e fico pensando em vivê-las, claro. “Quando ela mente/ não sei se ela deveras sente/ o que mente pra mim” [versos de “Ela faz cinema”, de Chico Buarque] é o que mais me define nos relacionamentos. Eu falo pra mim mesma: “Não finge, Deborah, não finge”. Hoje eu tô trabalhando isso.

Que tipo de terapia você faz? Comecei a fazer análise com 18 anos. Tem ideias do Gurdjieff [1866-1949, místico armênio], eneagramas que ajudam a compor meus personagens. Comecei quando fiz uma novela, Suave veneno. Foi meu primeiro papel sexy. Eu não tinha a bagagem sexual que a personagem exigia e dei uma pirada. Tinha uma cena de dança que eu não conseguia fazer, o Daniel Filho cancelou a gravação até. No primeiro nu que precisei fazer, fiquei chorando o tempo todo, não conseguia. Tremia inteira, chorava e o Daniel, que foi um pai pra mim, que tinha me dirigido no Confissões de adolescente, me disse: “Vamos para a análise. Botar pra fora suas angústias, seus medos”. Na terapia, eu descobri que estava chorando porque ainda não tinha vivido aquilo. “Pô, para de roubar minha vida, ô, profissão!” Como no meu primeiro beijo... Meu primeiro beijo da vida real veio depois, um ano e meio depois, de eu ter beijado no teatro. E foi num curso, com o André Gonçalves. Lembro que pedi: “Dá beijo de língua, porque eu não sei beijar e preciso aprender. Eu nunca beijei na vida real”. As personagens viviam as coisas antes de mim. Isso me machucava. O início dessa coisa da Deborah sexy foi muuuito doloroso. Virei sex symbol, mas não sabia nem transar.

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Mas você abraçou isso bem demais, ou pelo menos assim ficou parecendo... No início, eu vou te falar que fiquei muito feliz. “Ganhei da minha irmã!” [Risos.] Depois vi que aquilo, para a minha família, naquele momento, era muito... útil. Porque podia trazer uma estabilidade financeira, uma visibilidade maior. Mas chegou uma hora em que começou a ficar só aquilo, e vi que tinha que buscar outras coisas, mostrar que eu era... o oposto daquilo. Eu não me acho nada sensual. Sou uma supermulher, legal, bem-humorada, carinhosa. Mas sexy não seria um dos adjetivos. Essa coisa que o Daniel Filho me ensinou: “Nada da Deborah pode ser maior do que a personagem. A sua vergonha não pode ser maior que a personagem! Sua vaidade, seu medo... A Deborah fica no camarim! Quem vem pro set é a personagem”. E ele, com aquela coisa do pai: “Você vai ter que trabalhar isso. Fiz assim com a Glória Pires, com a Sônia Braga, com todas elas. Então você vai aprender também. Não é a sua ética, não é a sua moral que estão aqui!”. Com isso, aprendi mesmo. A minha vaidade não é maior que o meu trabalho. Tive que emagrecer 11 quilos para fazer o Boa sorte. As pessoas me olhavam na rua, nunca me viram tão feia. Fiquei trancada em casa, porque, nas poucas vezes em que apareci, dava problema. Depois engordei todos os 11 quilos perdidos e mais 3 para fazer A estrada do diabo. Nessa época, dezembro de 2013, apareci no Vídeo show e no Altas horas. Foi nota por um mês: “Deborah gorda!”.

Hoje você atua também como produtora executiva. Os homens ainda se assustam com mulheres poderosas, ricas, donas de si? Não sei, hoje acho que vejo os homens mais assustados com mulheres que querem tirar proveito material deles. Que querem se aproveitar de uma relação para ganhar dinheiro, patrimônio. É triste, mas tem mulher que está aí para isso, os caras têm razão de se sentir acuados. Diante de uma mulher que se banca, que se basta, esses homens não duvidam do amor, se sentem verdadeiramente amados. No meu caso, talvez o meu patamar financeiro possa intimidar quem está muito longe dele. Mas eu estou tão longe de ser o que eu tenho! Minha essência não é essa.

 

"Perdi a virgindade aos 18 anos. [...] Não sou o tipo de mulher que vai dar para um cara hoje sem pensar que amanhã a gente vai se falar e discutir o nome dos nossos filhos. Se não for assim, nem começa"

 

Você é religiosa? O que eu acredito... A minha religião é o que eu faço, é a minha prática no dia a dia. Como diz uma menina, doente terminal, que eu conheci na preparação para o Boa sorte: “Certeza, certeza de que tem outro lugar, eu não tenho, não! Então vamos aproveitar aqui. Se puder, Deborah, traz logo amanhã bolo e brigadeiro!” [Risos.] Ela falava isso como uma diversão! Agora, depois de ter trabalhado com a Fernandona [Fernanda Montenegro], eu liguei pra minha mãe e falei: “Vamos numa igreja pra agradecer”.

Você ficou famosa no Confissões de adolescente, era uma molecota. Agora, na recente adaptação do seriado para o cinema, viveu uma tia. Como se vê envelhecendo? É muito louco, porque a gente lembra de olhar para a nossa mãe com essa idade e achar velha. Mas, cara, me sinto começando a minha vida. Se a finitude não me interromper antes do esperado, quero envelhecer. Desejo arduamente as rugas, ficar com o cabelo branco, desejo ficar toda curvadinha. Porque só não fica quem morre antes! Eu tô no comecinho, sou muito disposta a encarar coisas novas, arriscar. Tem uma coisa que dizem de mim: “Ah, a Deborah namora e muda de personalidade, vira outra pessoa”. Não é que eu vire. Mas qualquer relação é feita de trocas. E eu sem preconceito me predisponho a conhecer tudo. Eu sou super diurna e quando namorei o Falcão me dispus a entrar nos horários dele. Vi que aquilo poderia me fazer bem de alguma maneira. Eu ia e depois determinava meu limite: vai você, e eu fico em casa lendo um livro.

Você disse outro dia numa entrevista: eu não quero ser uma celebridade. Como é a sua relação com esse universo? Eu acho que as celebridades deveriam ser cientistas, pessoas que inventaram coisas importantes, que fizeram trabalhos relevantes, transformações sociais. Essas são as pessoas que deveríamos seguir, observar, aprender. Eu, não. Não tenho essa importância. Tento dar uma humilde contribuição. No Boa sorte, a gente discute drogas, HIV, amor, finitude, temas fortes. Eu faço também uma peça, Mais uma vez amor, que mostra, entre outras coisas, a época dos confiscos no plano Collor, aparece a Zélia Cardoso de Mello. Depois, no camarim, os adolescentes perguntam quem era aquela mulher. Eu faço questão de explicar, falar para eles do confisco etc.

Mas você joga o jogo das celebridades, dá entrevistas para certo tipo de imprensa, participa como jurada do “Dança dos famosos”, até já quebrou duas costelas participando do quadro do Faustão... Ali, no programa, eu estou sendo leal a quem me ajudou, tenho gratidão à empresa que me contrata. Valorizo o tanto que me ajudaram e faço com prazer, além do profissionalismo. Em 20 anos, meu salário nunca atrasou, sempre foram corretos comigo. Me deram tempo para que eu me redescobrisse, para que eu fizesse outros projetos. Devo essa lealdade a eles quando precisam do meu lado celebridade. E também posso usar dessa condição na hora de sentar com uma empresa para pedir apoio a meus projetos, divulgar minha peça, meu filme. Esse equilíbrio é algo que busco, ainda estou amadurecendo. Eu hoje posso estar numa entrevista falando sobre certas coisas, mas procuro um limite. Estou aqui falando de uma Deborah que interessa às pessoas, mas não é a Deborah real. Eu posso dizer isso aqui [risos].

 

"Se um dia for necessário mostrar o peito e a bunda, ok, ele pertence à personagem. Se um dia for necessário  mostrar a vagina para contar uma história, eu vou mostrar. Desde que não seja algo gratuito"

 

Você falou do Mais uma vez amor, uma espécie de seu lado politizado. Quando e como foi que você tomou consciência das coisas da política nacional? Lá em casa era proibido levantar da mesa sem ler jornal. E não tinha essa de “não quero ler a parte de economia”. Aprendi muito viajando e vendo as desigualdades do Brasil. Eu tenho um projeto social, junto com a escritora Martha Medeiros, que leva dentistas e oculistas ao interior. Tem outro com ginecologistas. Usei meu lado celebridade pra conseguir apoio. E comecei a ir com uma van fazer o preventivo em mulheres que nunca tinham feito um preventivo na vida. Aí você vê que falta muita coisa mesmo para arrumar... Eu me disponho a ir lá, levar informação. E compreensão política de que uma cesta básica não é suficiente. Mas não levanto bandeira de nada na minha vida.

Você já foi elogiada publicamente pela Dilma... [Interrompendo.] Ela fez um elogio a Natalie, minha personagem na novela Insensato coração. Eu fiquei muito grata, como ficaria grata a qualquer elogio de qualquer brasileiro. 

Você vê um avanço na possibilidade de termos duas mulheres no segundo turno na eleição presidencial? Na questão política, eu não penso nisso, sabe? Eu quero um bom presidente, seja mulher, homem, branco, negro. Eu quero é alguém que, de verdade, faça pelo Brasil.

Nos seus relacionamentos, você sempre teve noção de igualdade, na base do “o que ele pode fazer, eu também posso”? Eu sempre procuro que seja assim, e não só nos meus relacionamentos amorosos. Não tem essa de que o homem é diferente. No relacionamento de igual para igual, o que o casal combinar, vale para os dois.

Você já deu uma declaração diferente sobre fidelidade, que ela não era essencial... Foram palavras distorcidas. Eu sempre falo que “o combinado não sai caro”. Já vi muitos relacionamentos em que a fidelidade não era algo essencial para ambas as partes... dar certo. Eu não saberia viver assim, mas super
-respeito quem topa. Eu de fato acho que amando alguém a gente não consegue. Eu vejo homem dizendo isso – homem acha isso até ver a mulher com outro. Mas vejo muitas pessoas vivendo assim, algumas bem, e respeito, até admiro, queria ter esse desprendimento, sabe? Mas acho que o amor ainda me torna egoísta. Até com amigo, às vezes sinto ciúme de amizade. Aquela coisa “puxa, minha amiga, tão minha amiga, e viajou com outra amiga!”

Você teve relacionamentos com dois homens de profissões que muitas veem como “de risco” no quesito fidelidade: músico, Falcão, e jogador de futebol, Roger. E também um diretor da Globo [Rogério Gomes, com quem foi casada de 1997 a 2001]. Ah, mas a gente não escolhe, né? O amor, ele acontece. Ele vem e me toca. Não importa o que a pessoa é: branca, negra, velha, nova, famosa, cantor, jogador. Eu vou ter que lidar com as consequências, assim como eles têm que lidar com as minhas questões. Então, até nisso, a gente vai trabalhando na igualdade [risos].

No filme Bruna Surfistinha, você aparece em cenas fortes, mas não há nu frontal. Houve questões contratuais, esse tipo de restrição? Olha, no começo, o contrato estava cheio de restrições. Aí eu fui viver
um mês com as meninas, as garotas de programa. Quando saí de lá, pensei: “Cara, eu não vou fazer Uma linda mulher, eu vou fazer o que eu tiver que fazer nesse filme”. Entendi que o que eu ganhei ali iria valer tudo. Fiz as cenas sem pensar. No final, na montagem, eu estava junto, e me preocupei em incluir todas as cenas necessárias para contar a história, sem a preocupação do que iria aparecer ou não. Queria causar o desconforto que senti vivendo aquela vida. Queria que os espectadores saíssem com uma sensação
estranha, pelo menos. Achava que eram muito mais fortes aquelas cenas de homens me pegando, me batendo, do que o nu, a perna aberta. A perna aberta não contava aquela história, os tapas, sim. Se
um dia for necessário mostrar o peito e a bunda, ok, ele pertence à personagem. Se um dia for necessário mostrar a vagina para contar uma história (de um câncer, por exemplo), eu vou mostrar, desde que não seja algo gratuito.

E fazer a Playboy, como foi? Hoje eu não faria novamente a Playboy. Na época, pensei na segurança financeira, no bem-estar da minha família. Na primeira vez que posei, gastei meu cachê com uma casa para a minha mãe, uma casa para o meu pai, e paguei os estudos dos meus irmãos. Na segunda, comprei uma casa para mim, e apliquei um dinheiro. Eu pensava: “Se eu ficar desempregada, consigo viver com esses juros”. A casa era em Jacarepaguá, depois a gente veio para a Barra. E hoje, como eu não preciso mais, já tenho essa segurança financeira, o que a revista pode me dar em troca? Não sou dessas pessoas que querem ter sempre mais, em termos de ganho material. Eu pensava muito nisto: quantas pessoas fizeram uma novela de sucesso com 18 anos e depois não deram certo? Eu achava que essa segurança
financeira faria uma diferença na nossa história. Por isso decidi posar nua. Hoje, tenho muita tranquilidade para falar a respeito. Depois que tive essa lição de vida com as garotas de programa, com quem convivi para fazer o Bruna Surfistinha, isso tudo ficou bem claro e resolvido para mim. Isso me permitiu ser quem sou hoje, não estar atrelada a projetos comerciais, não ter que vender, não o corpo, mas a verdade artística. Hoje eu posso brigar pela minha verdade artística.

Uma indiscrição, como você se refere a sua vagina? Nunca chamei de nome nenhum. Quando era criança minha mãe falava “limpar a pepeca”. Depois comecei a falar “vou fazer higienização íntima”. Boceta eu não falo. Acho feio. Vagina é uma palavra complexa, são muitas sílabas se comparar com cu [risos].

Ao longo da carreira, além do processo de conquistas pela atividade física, você também se submeteu a transformações corporais. Até que ponto colocar silicone nos seios, por exemplo, é uma exigência de mercado de trabalho? Na verdade, eu botei silicone por uma questão que surgiu na análise. Eu tinha um superproblema com o peito da minha irmã. Ela tinha um peito lindo – e o meu peito não crescia. Até que um dia, a Dora, minha analista, disse: “Ô, Deborah, eu sou contra a plástica. Mas se isso está te fazendo mal na relação familiar, resolve o seu problema. Vai para vida”. E eu: “Não sei, quero ter filho antes”. E ela: “Mas isso parece ser um problema tão grande que você talvez nem tenha filho por causa dessas questões”. Se é um nariz que incomoda, alguma coisa física que faz mal para a pessoa, acho ótimo resolver com plástica, mesmo que soe fútil para os outros. Eu cresci com isto: minha irmã era muito mais bonita, os meninos gostavam dela. Os que eu gostava, namoraram com ela. Ela é um ano e meio mais nova do que eu. Eu jogava a culpa disso no peito, sabe? E realmente foi a solução, porque eu botei o peito e vi que não era esse o problema [risos]. Botei uma vez só, foi pouco, 230, 280 mililitros, eu acho. De roupa, não aparece tanto. Não sei se faria hoje, sabendo de tantos casos em que houve complicações. Bom, não ficou dos piores [risos]. Tem coisas que a gente só aprende com a idade. No final, mais vale o molinho verdadeiro do que o duro falso [risos].

Você cresceu na era da camisinha, a Aids já era tema na época do Confissões de adolescente. Como viveu a sexualidade nessa fase? Muito antes da minha primeira relação, minha mãe já havia me levado ao ginecologista. Fui apresentada à pílula, camisinha etc. A gente tinha aula de educação sexual: a coisa de como pedir para o cara botar a camisinha eu aprendi no colégio. Perdi a virgindade aos 18 anos, com camisinha. Assim, de uma forma lúdica, eu diria que não sou o tipo de mulher que vai dar para um cara hoje sem pensar que amanhã a gente vai se falar e discutir o nome dos nossos filhos [risos]. Para mim, a intimidade que o sexo permite a um casal é para pensar em construir uma vida juntos. Se não for assim, nem começa. Eu não lido bem com isso: se o cara não me ligar no dia seguinte, eu me mato [risos]! Não tenho essa força. Eu namoro muito, me envolvo muito. Tento acreditar nesse amor que talvez não seja tão perfeito quanto acho que é. E, com o tempo, me deparo com a realidade. Mas sempre começo alguma coisa pensando em relacionamento.

E drogas, elas estiveram por perto? Costumo dizer que tive sorte. De conhecer o final da história muito cedo. Tive contato com as drogas assistindo a pessoas muito próximas morrerem de overdose. Minha mãe segurou a gente em casa o máximo que pôde. Quando fui ter contato com drogas, já vi o fim da história: overdose, corre pro hospital, vai morrer, não vai morrer. Nessa ocasião, pensei: “Não quero isso para mim. Deve ser bom pra caralho, senão as pessoas não iriam se foder assim”. Isso ficou claro pra mim aos 17 anos. Eu nunca experimentei, e nem posso. Tenho total consciência. Pessoas com a minha intensidade... O meu fim seria aquele que eu vi, e seria rápido. Sou assim com comida. Como uma forma de pudim inteira. Tiro do forno e como direto. Uma panela de brigadeiro todinha também.

Doces são o seu fraco? E álcool? Só os doces. Comida em geral: arroz, feijão, farofa. Bebida, não. Não bebo nada, nem vinho. Não gosto do cheiro, acho mulher bêbada feio, perde uma coisa mágica, suave, doce... Mulher com cerveja, então... Mas quem gosta, tudo bem. Eu acho que se bebesse também, poderia adorar, gostar demais, ficar doida... Tem uma outra coisa aí: eu sempre soube que nasci com uma loucura artística de me permitir viver outras vidas. Por isso não posso perder minha razão, eu me perderia por aí. Passar do ponto fora da consciência, sabe? Eu já vim querendo brincar de ser outra pessoa, já vim com essa dose de loucura. Mas, convivendo com pessoas que usam droga ao longo do tempo, minha prática sempre foi: eu não peço pra você parar, você não pede pra eu usar.

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 No primeiro book, aos 9 anos: "Não tenho lembranças da minha vida sem ser atriz"

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Com a mãe, Silvia Regina, os irmãos Ricardo e Barbara e os sobrinhos

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 Abraçada ao pai, Ricardo

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 Na primeira peça em que atuou, ainda no colégio

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 Aos 15 anos, no seu baile de debutante, fazendo par com Daniel Filho

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 No papel da filha de José Wilker, em A Próxima Vítima, na TV Globo: "Aprendi muito com ele"

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 Na novela Boogie oogie, com o ator Fabrício Boliveira: "Sou uma supermulher, legal, bem-humorada, carinhosa. Mas sexy não seria um dos meus adjetivos"

 

Fonte: Revista Trip

25
Nov09

CONTIGO Deborah Secco 30 anos (26/11/2009)

Deborah Secco Portugal
A actriz vive um casamento à distância, mas quer formar uma família

Capa da Edição 1784 Contigo!

''Reservei ser mãe nesta época, é o momento de montar minha família''

 

 - Foto: Ernani D’Almeida - 0

São 11h da manhã. Deborah Secco atravessa a porta da suíte presidencial do Sheraton São Paulo WTC Hotel. Está de calça jeans larguinha, boyfriend, e salto alto. Meia hora antes, quando deixou o apart onde mora há três meses na cidade para rodar o filme Bruna Surfistinha - O Doce Veneno do Escorpião, ela nem se deu conta que a camiseta branca um pouco transparente sobre o sutiã estava do avesso. Risos. Já descalça, ela coloca os pés no chão. É dia de folga e Deborah está com água na boca para comer bacalhau no almoço, cardápio que virou mania desde o início dessa temporada paulistana. Enquanto espera o delivery, ela come uns dois bombons. Ainda parecendo uma menina, mas com toques de sofisticação, Deborah chega aos 30 anos no dia 26 de novembro com a vitalidade dos 15 - e lembra seus momentos aos 20. Agora, pensa em montar sua família com o jogador Roger Flores, 31, que vive no Catar, mas está a um pulinho do Skype de Deborah. O mulherão das fotos na verdade não domina a figura do marido: ela é passiva, obedece mais e tudo bem. Já as lentes da câmera viram sua escrava e só têm descanso quando ela quebra o clima com caretas debochadas. Confira...
 

 

 - Foto: Ernani D’Almeida - 1

''Eu acho que, num relacionamento a dois, a mulher sedutora é aquela que domina. Eu não sou assim. Sou passiva, obedeço mais''

 

 - Foto: Ernani D’Almeida - 5

Roger me surpreendeu porque eu é que falava: ''Vamos casar!’ E ele: ‘Casar com quem? Já arranjou marido? Eu não vou casar''

 

 - Foto: Ernani D’Almeida - 6

''Eu sempre achei que amava mais as pessoas do que elas me amavam. Descobri que o amor existe quando é igual dos dois lados''

Como você consegue ficar tão sedutora nas fotos?

(Risos) Acho que é uma defesa de quem é atriz criar personagens na hora de fotografar. O normal é pegar aquela que está mais próximo de você no momento. Da mesma forma que consigo fazer uma foto sexy, também sei ser mais neutra. Queria muito saber usar isso na vida real. Eu não sou isso, não acredito nessa sedução.

Nem na vida a dois?
Na vida a dois principalmente. Não é natural para mim.

O que é natural?
Eu sou quieta e caseira. Não sou sedutora o tempo todo. Não sou sexy. Sou mais romântica. Eu acho que, num relacionamento a dois, a mulher sedutora é aquela que domina. Eu não sou assim. Sou passiva, obedeço mais. Se me pergunta onde vamos jantar, eu nunca escolho. Dificilmente imponho a minha vontade. O Roger já se acostumou com isso. Já sabe que qualquer decisão vai ter de partir dele.

Mas essa mulher que surge nas fotos em nada se parece com o estilo ''mulherzinha''...
Essa mulher que as pessoas admiram nas fotos é uma mentira. Elas veem uma Deborah sempre penteada, maquiada, produzida. Eles não me veem acordando. A Deborah que admiram sou eu depois de duas horas me arrumando, que isso fique claro (risos)!

Quanta propaganda contra!
Hoje as pessoas se cobram pela perfeição, têm de ser magras e bonitas. Ninguém tem de ser nada! Tem de ser o que faz você feliz. As pessoas vivem numa hipocrisia, é uma perseguição... Ninguém pode ser feio. Aí, a gente aparece sempre linda na foto. Mas não é assim! Temos celulite, bumbum mole, temos milhões de defeitos, choramos sozinhas no quarto. Faço questão de libertar as pessoas e dizer que não existem mulheres perfeitas. Vá ao salão e você ficará linda. Não acordamos assim, ninguém fica linda inchada, de camisola, tomando leite (risos).
 

 - Foto: Ernani D’Almeida - 7

''Tudo o que eu fiz, guiada pela impulsividade, foi viver como se o mundo fosse acabar amanhã''

 


Você diz que gosta de cuidar da casa, de arrumar as coisas, de botar a mesa. Morando em São Paulo por causa do filme e com Roger no Catar (Emirados Árabes), não está sentindo falta do início da vida de casada?
Mas a gente já experimentou essa vida a dois. Mal ou bem, ficamos um tempo juntos no Rio, depois em Porto Alegre, antes de nos casarmos. E, quando estou lá no Catar, também tem esses momentos. Lá, principalmente, porque somos só nós dois.

Não vê a hora de ele voltar para o Brasil?
A maior prova que a gente se dá é eu entender o quanto isso é importante para ele profissionalmente e ele entender o quanto é importante para mim o que faço aqui. A gente se respeita, se admira. Amor não é querer a pessoa para você. É querer quem você ama feliz.

E como matam a saudade?
De todas as maneiras! Mensagens de texto, telefone e Skype (telefone pela internet) nos possibilitam estar próximo, mesmo tão distante. Lá são cinco horas a mais. Nos adaptamos. A maioria das vezes em que chego ao hotel, ele está dormindo. A hora que estou acordando é uma hora boa para a gente se falar. Quantas vezes ligo? Depende... Agora, trabalhando, eu não consigo ligar muito, não levo o celular para o set. Quando eu não estou, se deixar eu ligo muito e fico o dia inteiro no Skype.

É um casamento livre de crises porque é uma convivência à distância?
Nosso casamento é sem crise porque é sem crise mesmo. Às vezes a distância até dificulta. Quando as pessoas se gostam elas querem estar perto.
 

 - Foto: Ernani D’Almeida - 2


Por que não esperaram o momento em que os dois viveriam no Brasil para se casar?
Na verdade, tínhamos uma data anterior de casamento, dezembro de 2008. Mas, no meio disso, ele recebeu o convite para jogar no Catar e tudo dependeria da classificação do time para saber se estaríamos no Brasil. Fomos adiando, adiando... O pedido veio antes de ele saber que ia morar lá. E me surpreendeu porque eu é que falava: ''Vamos casar!''E ele sempre dizia: ''Casar com quem? Já arranjou o marido? Eu não vou casar''. Aconteceu na hora em que achamos que a vida seria mais legal se estivéssemos juntos.

Uma vez você falou que casamento em casas separadas não era casamento, era namoro... Continuo pensando da mesma forma. Tenho duas casas, aqui e no Catar. Quando estou lá, eu administro as coisas. Não vou dizer que boto ordem em tudo porque há coisas que ele faz melhor que eu, como cozinhar. Mas não é a casa dele. É a nossa casa.

Você também já declarou que estava muito perto de saber o que é o amor mesmo. Hoje, já sabe?
Eu acho que não falei só em relação a homem e mulher, mas, principalmente, em relação a amar e confiar. Consegui relações na minha vida que me fizeram enxergar que o amor é possível, que essa troca é verdadeira. Eu sempre achei que amava mais as pessoas do que elas me amavam. Descobri que o amor existe quando ele é igual dos dois lados.

E por que você queria tanto completar 30 anos?
Eu aprendi a gostar de mim, a ficar sozinha. É a idade em que seus atrativos são o que você tem por dentro e não o que tem por fora. Ao mesmo tempo, ainda tem a beleza da juventude. Hoje, começo a me enxergar. Sei que ainda tenho de trabalhar a minha impulsividade. No meu trabalho, é impossível não ser assim, porque esse despudor é quase fundamental. Mas também aprendi a canalizar para que isso seja profissional. Às vezes, eu confundia e trazia para a vida. Antigamente, se eu fosse comprar uma casa, não podia esperar. Se eu gostasse de alguma coisa, eu ia querer ter 30 daquilo. Tudo o que eu fiz, guiada pela impulsividade, foi viver como se o mundo fosse acabar amanhã.
 

 - Foto: Ernani D’Almeida - 3


Agora, quais são suas metas?
Agora se inicia a década de ter filhos, das realizações. É o momento de montar a minha família, me estabilizar profissionalmente, construir uma imagem mais sólida. Maternidade? Isso vai acontecer. Mas prefiro não planejar. Essa vontade não está latente agora, mas, daqui a um ano ou dois, pode mudar. Filho é uma coisa delicada. Reservei ser mãe nessa época por ouvir a minha mãe falando como foi ter filho muito cedo, que não aproveitou tanto, que se dividiu entre ter de ganhar dinheiro para sustentar a família e o pouco tempo que sobrava para os filhos. Sempre sonhei em viajar muito, conhecer a Europa de carro, para depois ter filho.

A Europa de carro você já conheceu na lua de mel?
Não toda, uma parte (risos).
 

 - Foto: Ernani D’Almeida - 4


Fisicamente falando, você se vê como uma mulher de 30?
Ainda me sinto com a vitalidade de 15! Não vejo essa diferença física. Ainda faço uma imagem minha de menina. Às vezes, eu me olho no espelho e estranho: ‘Nossa, já estou velha!’. Mas também tenho uma postura que não é de mulherão, que chega e chama atenção, poderosa, elegante. Gosto mais de mim agora em todos os aspectos, físico e emocional. Eu só melhorei. A idade me favoreceu. Eu vejo fotos minhas de quando era novinha e penso: ‘Que monstro!’ Eu tinha muita espinha, era magra, tinha pernas finas. Na minha época, bonito era ser boazuda, o que eu não queria ser. Eu era a feia do colégio. Eu não era a popular, que se achava incrível. Eu era aquela chata, que ficava sozinha.

Há três meses, vivendo em São Paulo para rodar o filme sobre a vida de Bruna Surfistinha, como tem sido sua rotina? E qual a cena mais complicada até agora?
Não está tão normal assim. Comecei a filmar à noite, das 18h às 6h. Chegava ao hotel às 7h, dormia às 8h, acordava às 17h e estava pronta novamente. Agora, filmo de dia, da casa para o trabalho, do trabalho para casa. Quando eu me envolvo com a personagem, a minha vida particular fica muito guardada. Achei que fosse sentir falta do pilates, mas não. Só sinto falta de dormir uma horinha a mais. Todo mundo fala das cenas de sexo... Mas o que mais me agride são as cenas de droga. Eu nunca usei. Outro dia tive de cheirar pó (cenográfico) sem usar uma nota de dinheiro. Eu disse no set: ''Não sei o que fazer, gente!'' É muito mais fácil para mim conversar com uma garota de programa e ouvi-la contando que naquele dia saiu com sete caras porque precisava do dinheiro e eu entender a dor que ela sentiu, mesmo nunca tendo passado por esse trauma. Para mim sexo sempre foi ligado a sentimento, respeito e carinho.

Mas eu posso imaginar o que seria uma hora com um cara nojento em cima de mim, me batendo, realizando fantasias que não são agradáveis e você tendo de se submeter a isso, ou a entrar no carro de um cara sem saber se vai voltar. São mulheres muito corajosas. Estamos mexendo em um assunto que está dentro de casa, com pessoas casadas, consideradas sérias. Por que colocar uma arma na mão de um menino, que mata um bando de gente em Cidade de Deus é legal e mostrar sexo obrigado, pago e submisso não pode? Ainda há muito preconceito em torno desse assunto...

 

 

 

Deborah Secco aos 30 - Foto: Ernani D' Almeida
Eu aos 20...


>> Eu comia brigadeiro
>> Eu me apaixonava facilmente
>> Eu queria da vida ser feliz
>> Eu ouvia MPB
>> Eu chorava vendo filme de amor
>> Eu sonhava em ser feliz, em ter uma carreira bacana e uma família
>> Eu comprava muito mais bobagens que eu não usava
>> Eu namorava
>> Eu viajava com menos frequência e queria viajar mais, conhecer lugares
>> Eu dormia muito
>> Eu via o sexo como uma coisa estranha. E não sabia por quê...
>> Eu antes morava em uma casa...
>> Eu era carente de companhia
>> Bom, eu vestia tudo errado...
>> Eu não pensava em como me viam
>> Eu queria provar que sou quem realmente sou
>> Eu discutia na minha terapia quem eu era
>> Eu achava o meu corpo péssimo
>> Eu tinha saudade da minha infância, dos almoços de fim de semana com a família reunida
>> Eu achava que uma relação precisava ser intensa

...e eu aos 30!

>> Eu ainda como brigadeiro
>> Eu me apaixonei só por quem realmente vale a pena
>> Eu quero continuar feliz
>> Eu continuo ouvindo MPB
>> Eu agora choro é de saudade
>> Bom, digamos que eu ainda sonho com as mesmas coisas (risos)
>> Eu agora penso três vezes antes de comprar
>> Eu sou casada
>> Eu viajo para os mesmos lugares agora... Só para o Catar (risos)!
>> Ainda durmo muito (risos)
>> Agora eu vejo o sexo completamente ligado a meu marido
>> ...e agora moro num apê com quarto e sala
>> Eu sou carente de sentimentos verdadeiros
>> ...agora me preocupo muito mais com isso!
>> Eu acho que cada um me vê de uma maneira
>> Eu não quero provar nada para ninguém
>> Bom, continuo discutindo a mesma coisa (risos)!
>> Eu acho o meu corpo médio (risos)
>> Aos 30, também tenho essa saudade, mas com a certeza de que quero construir isso para mim.
>> Eu acho que a relação deve ser serena, em paz




Assistente de fotografia: Isabel Acosta. Cabelo e maquiagem: Marcos Proença. Assistente: Tatiana Santos. Produção: Marcio Vicentini. Cashmere: Daslu. colar: Raphael Falci

 
13
Ago09

As escolhas de Deborah Secco

Deborah Secco Portugal

Produção: BIANCA ZARAMELLA

Uma das mais importantes actrizes da sua geração, Deborah Secco completa 20 anos de carreira em grande estilo. Ao contrário da bóia-fria Maria do Céu, personagem que interpretou em "A Favorita", Deborah Secco está muito atenta à moda, uma das suas paixões. Tanto que estreou como estilista assinando uma linha para a marca londrinense Pura Mania. “Eu desenhei peças inspiradas no que realmente gosto de usar. Fiz milhões de pesquisas e saíram coisas bem bonitas. Adoro costas. Acho mais bacana o insinuar do que o mostrar.” Embora seja uma mulher meiga e tenha um estilo próprio, Deborah gosta de incorporar referências da moda masculina no seu guarda-roupa. “Procuro sempre saber o que Sienna Miller e Kate Moss estão usando. Kate tem uma coisa muito Deborah porque consegue usar peças masculinas sem perder a feminilidade. Já Sienna tem um lado de desconstrução que eu adoro.”

 

Raio X
Num final de semana por São Paulo, Deborah Secco posou com roupas desenhadas por ela. “Adoro jeans. É minha peça preferida. Pode ser mais estiloso ou mais basiquinho, mas tem que ter”

 

Indispensável
‘‘Meu relógio é item indispensável em qualquer look que eu faço. Preciso dele até na hora de fazer uma foto. Sabe quando você olha e percebe que está faltando alguma coisa?’’
Rolex a partir de R$ 11.500

 

Literatura
Tenho vários livros de cabeceira. Para citar um dos mais recentes que li, gostei muito da biografia do Tim Maia escrita pelo Nelson Motta’’
Vale Tudo – O Som e a Fúria de Tim Maia, Ed. Objetiva, R$ 49,90

 

 

Favoritos 

 "O meu telemóvel é uma coisa que tem que estar sempre na minha bolsa. Não vivo sem ele. Também não consigo ficar sem os meus anéis"

 

Styling
‘‘Sapato e bolsa é tudo que eu mais amo na vida. Acho que um bom acessório levanta qualquer produção"

 

Viagem
‘‘Fui para a Disney com o meu pai quando eu tinha 12 anos. Me senti pela primeira vez perto do meu pai de verdade. Ele teve de cuidar de mim e dos meus irmãos, que estavam superanimados. Eu era a mais medrosa e como ele também estava com medo dos brinquedos radicais, acabamos nos aproximando. Na viagem, dividimos a mesma cama e, depois que voltamos para o Brasil, continuamos dormindo juntos’’
Pacote de 10 dias para a Disney a partir de R$ 4.515 com a CVC

 

 Filme
‘‘Pra mim, não há nada melhor que uma comédia romântica, daquelas bem água com açúcar que você sai chorando no final. The Notebook (Diário de uma Paixão) eu vi muitas vezes e não tem jeito, todo mundo ri, mas eu sempre acabo em lágrimas. Sou daquelas que vêem 300 vezes o mesmo filme"
Diário de uma Paixão – The Notebook, de Nick Cassavetes, com Rachel McAdams e Ryan Gosling, R$ 29,90

Portugal: 10,90€ na Fnac.

 

Fonte: Isto é gente

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Dedicado: Deborah Secco Desde: 24 de Maio de 2008 Administradora: Patrícia Nome: Deborah Secco Portugal
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