Sempre comparada a O Clone (2001) e Caminho das Índias (2008) por causa do seu lado mais alegórico, Salve Jorge (Globo, 21h15) tem trama que se mostra cada vez mais parecida com América.
Como a Sol (Deborah Secco), heroína da novela que Glória Perez escreveu em 2005, Morena (Nanda Costa) tenta vencer trabalhando no exterior. Entre tantas idas e vindas, por meio de sofridas travessias do deserto, Sol se envolveu com uma quadrilha de coyotes, especialistas em se aproveitar dos que tentam cruzar a fronteira americana, e acabou como dançarina. Vítima de bandidos que traficam bebês e prostitutas, Morena foi parar numa boate na Turquia muito semelhante àquela da Miami de América e onde, curiosamente, toca sempre a mesma música – quem não lembra do “Chiquita/ I love you/ I love you”?
Sem saber, Sol traficou drogas, enganada pelo vilão Alex (Thiago Lacerda) e sua comparsa, a temível Djanira Pimenta (Betty Faria). No fim da história, mais uma bandida apareceu – Úrsula, papel de Vera Fischer. Pois é, a mesma Vera Fischer que desta vez é Irina, uma das capangas de Lívia (Cláudia Raia), a “super má” do momento. Depois de um longo período de foge-e-recaptura, nos próximos capítulos, a quadrilha de Salve Jorge mandará Morena para o Brasil com cápsulas de droga no estômago – além de América, a trama lembra o longa-metragem Maria Cheia de Graça (2004, Joshua Marston).
No filme colombiano, a personagem aceita a proposta de um traficante ao se ver grávida e sem emprego, tudo feito em plena consciência. Mas a decisão de viajar das duas mocinhas das novelas foi um tanto descabida, baseada em sonhos.
Mesmo sendo o projeto de sua vida trabalhar nos Estados Unidos, Sol não se preocupou em aprender inglês. E mesmo diante da perspectiva de servir mesas num restaurante em Istambul, não passou pela cabeça de Morena que ela precisaria do idioma para anotar os pedidos dos clientes.
Resultado: quando precisaram, as brasileiras não sabiam como explicar a enrascada em que se meteram – ou dizer qualquer coisa. Aí, um detalhe comum a todas as novelas aqui citadas: embora conversem em português com os personagens estrangeiros, justamente nos momentos de maior necessidade, os brasileiros não se fazem entender. Vai entender…
Fonte: Cenariomt