Longa-metragem narra as aventuras e desventuras de garota de programa que se tornou símbolo sexual
Um dos filmes brasileiros mais comentados do ano: “Bruna Surfistinha", chega às telonas. Por sinal, com aprovação da verdadeira Surfistinha, Raquel Pacheco. Com cenas rodadas em Paulínia e Campinas, o longa fez pré-estreia no Theatro Municipal na noite de quinta-feira (24). Chega nesta sexta-feira (25) em 350 salas em todo o País.
A história é polêmica. Isso desde que surgiram as primeiras ideias da adaptação, afinal, não é tão fácil transportar as palavras da biografia de Bruna Surfistinha para as telas de cinema. Até porque, a prostituta ficou famosa por relatar seu dia-a-dia em blog e posteriormente contar sua vida no livro “O doce veneno do escorpião – Diário de uma garota de programa”. Portanto, pode-se pecar com erotismo gratuito. O diretor estreante Marcus Baldini procurou se afastar de tal facilidade.
Com patrocínio do Polo Cinematográfico de Paulínia, alguns pontos da cidade foram escolhidos para serem cenários do filme, como o Hospital Municipal, um posto de gasolina, uma academia e uma pousada. Em Campinas, a Unicamp, um apartamento no bairro do Cambuí e hotel da cidade também foram escolhidos como set.
As primeiras cenas do filme retratam a menina de classe média saindo de casa, dando às costas à vida como Raquel Pacheco e iniciando a caminhada para se tornar Bruna Surfistinha. A partir de flashbacks, o espectador tem acesso ao passado da garota, a falta de comunicação com os pais adotivos e os problemas na escola, fatos que a impulsionaram na decisão de se tornar garota de programa.
Raquel começa a trabalhar no Privê de Larissa (Drica Moraes), onde conhece outras prostitutas e inicia sua vida como garota de programa. De deslocada, como era no período de estudante, a jovem passa a ser a mais requisitada pelos clientes.
Baldini disse que teve dificuldades para provar que a produção não se tratava um filme pornográfico. De fato, apesar de estar repleto de cenas de sexo, não chega a ser vulgar. Soma-se a isso, o teor da construção das cenas erótica, frequentemente pintadas em tom forte; jamais glamourizando ou sensualizando a atividade de Bruna.
Aos 31 anos e em ótima forma, Deborah Secco convence como colegial. Recentemente, ela declarou que este é o papel de sua vida e parece mesmo se empenhar na interpretação, mas falta profundidade do roteiro com relação à personagem. Isso dificulta seu trabalho como atriz. Por exemplo, há apenas poucos momentos nos quais se pode perceber a necessidade da garota de receber atenção, o cerne da da narrativa proposto pelo diretor.
O filme não questiona o problema da prostituição, nem mesmo quando mostra as outras garotas de programa, que claramente enfrentam a situação por dificuldades financeiras. O longa só mostra que a vida de Bruna se despencando, quando revive a entrada de Surfistinha nas drogas ou a falta de dinheiro.
No entanto, o maior defeito do filme é focar quase por exclusivo no dia-a-dia de Bruna, em detrimento de sua própria personalidade, seus sonhos, seus medos e frustrações. Como foi dito, a verdadeira Raquel aprovou o filme. E essa é a impressão deixada: de que o filme foi feito para agradá-la. Antes da sessão, o diretor declarou que o filme é o seu próprio olhar sobre a personagem que viu no livro. Talvez este seja o problema: a falta de ousadia de deixar um pouco de lado as declarações escritas no livro, em que se referem ao lado pitoresco da profissão; e se concentrar com entusiasmo na própria essência de Bruna Surfistinha.
Fonte: Eptv